A dor musculoesquelética é um evento comum na população geral, sendo o principal motivo da procura por atendimento médico pela população. Pode ser aguda ou crônica (definida como aquela de duração maior do que 3 a 6 meses), regional (localizada) ou disseminada (caracterizada pela presença de dor difusa pelo corpo). O termo dor miofascial é utilizado para descrever uma condição clínica específica de dor muscular regional, muito freqüentemente associada à presença de um ou mais pontos dolorosos (trigger points), que nessas circunstâncias são denominados pontos-gatilho. A dor é profunda e mal localizada. Podem vir associados fenômenos motores, sensoriais ou autonômicos, justificando-se, desta maneira, a designação de Síndrome Miofascial.
Devemos sempre pesquisar, na avaliação das dores, a sua localização. As chamadas dores loco-regionais (orofaciais – cefaleias tensionais, dor temporo-mandibular – estão entre as mais comuns; mas também temos as cervicais, dorsais e lombares, incluindo as dores pélvicas de origem desconhecida) estão entre as mais comuns e causam bastante limitação. Iremos abordar as Síndromes Miofasciais que acometem a Cintura Escapular – Dorso – Cervical, tentando limitar a área de atuação do médico ortopedista especializado em Cirurgia do Ombro e Cotovelo.
Os pontos-gatilho devem ser bem caracterizados, sendo definidos pela presença de um ponto doloroso à palpação manual sobre uma área de músculo tenso, em nosso caso mais comumente o trapézio, que também provoca uma dor percebida à distância (dor referida, normalmente como um peso para os membros superiores e sensação de queimação, chegando as vezes as mãos). É comum a percepção de uma contração muscular à palpação local, bem como uma reação involuntária de salto em retirada à dor provocada. Além da dor muscular e dos pontos-gatilho, podem estar presentes diminuição da mobilidade local e fraqueza muscular (fenômenos motores), dormências e formigamento (fenômenos sensoriais), etc. São freqüentes as queixas de alterações do sono e do humor. A fibromialgia deve ser sempre lembrada no diagnóstico diferencial, não sendo incomum a coexistência de ambas as patologias em um mesmo indivíduo.
As causas da dor miofascial permanecem desconhecidas, as hipóteses mais aceitas falam de uma disfunção (desequilíbrio) muscular adquiridas, bem como a hipótese combinada (desordens micro-estruturais e um fenômeno de sensibilização central da dor, como o que ocorre na fibromialgia). A sensibilização central pode ser definida como uma disfunção na percepção da dor, na qual o sistema nervoso central passa a interpretar vários estímulos, inclusive os não dolorosos, como dor.
O diagnóstico é clínico, com a história do paciente e o exame físico. É importante realizar uma completa anamnese da dor, bem como perguntar sobre os fatores que desencadeiam e perpetuam a dor – alterações de sono, humor, erros posturais nas tarefas do cotidiano e trabalho, falta de atividade física, erros alimentares, doenças clínicas mal controladas, etc. Exames como eletroneuromiografia e termografia são capazes de avaliar os Trigger Points, mas são pouco utilizados na prática clínica.
O tratamento inclui estratégias de ordem multidisciplinar, dada a natureza complexa da dor. A identificação de fatores mecânicos no ambiente de trabalho (ergonomia) é útil para a correção ou prevenção de elementos perpetuadores da dor. Fisioterapia, medicação, massagem e aplicação de calor superficial e profundo podem ser utilizados. O agulhamento dos pontos-gatilho (a seco ou com injeção de substâncias anestésicas) é amplamente descrito na literatura, devendo ser sempre realizado por um especialista. A injeção de toxina botulínica merece comprovação de sua eficácia, e o uso de corticóides locais deve ser evitado por efeitos adversos potenciais. A acupuntura, por sua vez, apresenta resultados positivos. O tratamento medicamentoso inclui o uso de analgésicos, antiinflamatórios não-hormonais, miorrelaxantes e antidepressivos. A prática de atividades físicas e a identificação de distúrbios psicológicos é de incontestável importância para manutenção do quadro controlado. O diagnóstico precoce, seguido de tratamento especializado e multidisciplinar da síndrome miofascial são os grandes diferenciais para se evitar a cronicidade e o conseqüente pior prognóstico.
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