O depósito de cálcio nos músculos do manguito rotador é uma patologia comum de etiologia ainda desconhecida (ocorreria apenas por alteração bioquímica do músculo ou fenômenos de compressão seriam mais importantes?), o que, de certa forma, é embaraçoso para o médico, já que a pergunta clássica em consultório é: -“Doutor, como esse cálcio foi parar aí no meu ombro?”.

O curso natural da doença ­mostra que os depósitos de cálcio normalmente aparecem após quadros inflamatórios inespecíficos e que atuam levando a alterações celulares nos músculos do ombro; também mostram que eles são reabsorvidos ao longo do ­tempo e que os músculos cicatrizam este processo inflamatório. Esse processo pode levar anos e ocorrer sem qualquer sintomatologia dolorosa em alguns casos, ou com quadros de dor aguda durante os ­períodos de reabsorção do cálcio.

Segundo Uhthoff e Sarkar a fisiopatologia ou evolução da tendinite calcária pode ser dividida em três fases: a de pré-calcificação (inflamatória), a de calcificação (ocorre o depósito) e a pós-calcificação (ocorre à absorção do depósito), destacando-se que as mesmas fazem parte de um continuum, e não são fases estanques, com limites bem definidos, podendo ocorrer em um mesmo ombro calcificações em fases diferentes de evolução. 

A tendinite calcária apresenta baixa incidência na população (2,7% a 7,5%) e 75% dos casos ocorrem no sexo feminino, com uma faixa etária de maior abrangência entre a 3ª e 4ª décadas de vida. Não há correlação ­entre trauma do ombro ou atividades que envolvam esforços repetitivos com o depósito de cálcio.

A fase crônica é correspondente ao período de formação, onde o paciente apresenta dores de leve intensidade, com o inicio do período de reabsorção desenvolve-se o quadro agudo da patologia com a presença de dor de forte intensidade e limitação funcional, como resultado do processo inflamatório local. A dor é o sintoma mais importante nesta patologia.

Uma investigação radiográfica adequada é fundamental, a radiografia simples em ântero-posterior com rotação interna e externa e a incidência lateral do acrômio (su­pras­pinatus outlet) são essenciais. Outros exames de imagem normalmente não são necessários para o diagnóstico.

O tratamento conservador como forma de primeiro atendimento é realizado conforme a fase (aguda ou crônica) em que o paciente é avaliado pelo médico; objetiva, por meio de medidas analgésicas medicamentosas e fisioterápicas, a manutenção de um ombro indolor, com uma amplitude de movimento normal. O tratamento cirúrgico tem três indicações básicas: um aumento progressivo dos sintomas; interferência com a vida diária, durante a noite ou no lazer; ausência de melhora dos sintomas com o tratamento conservador. A ressecção artroscópica é a sua forma de escolha pela precocidade na reabilitação e menor lesão anatômica. A recuperação do quadro é rápida e o paciente retorna a suas atividades completas em um curto período de tempo.

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